sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A túnica


O Swami tinha acabado de receber uma túnica
magnificente feita de seda cor-de-laranja. Estava brilhando
como nenhuma outra no seu guarda-roupa. Ele decidiu levá-la
com ele para o retiro e darshan da Páscoa em Lörrach, na
Alemanha, em Abril de 2006. Na segunda-feira de Páscoa,
cerca de 150 pessoas estavam presentes para o darshan. O
Swami deu-me a túnica para passar a ferro. Montei a tábua
de passar no corredor e liguei o ferro, enquanto o Swami se
estava preparando para a cerimónia. Quando estava
passando a ferro, algumas pessoas ainda andavam pelo
corredor. O Swami abriu a porta e chamou-me,
- “Pritala, vem aqui. Já acabaste?” Perguntou ele.
- “Ainda não, mas eu terminei as calças, estão
penduradas ali. Se você quiser, eu posso dá-las a você”,
respondi eu. Movi-me na direcção das calças, mas o
Swami gritou,
- “Pritallllaaaaaa!!!! Está-se a queimar! Olha!
Ahhhhh!!!”
Corri na direcção do ferro, que tinha esquecido em cima
da bonita túnica cor-de-laranja, mas era demasiado tarde, a
túnica estava queimada. A marca do ferro era muito visível,
como uma marca vermelha no material cor-de-laranja. Fui ao
quarto do Swami para ver melhor, mas não havia nada a
fazer, estava muito perceptível. Eu fiquei consternado.
- “Lamento muito…” disse eu.
- “Está estragada, agora já não a posso usar mais”,
disse o Swami, levantando os braços.
- “É a parte de trás da túnica, portanto enquanto
você está sentado, talvez as pessoas não vejam”, sugeri
eu.
- “Mas quando eu caminho, eles vão ver a marca do
ferro nas minhas costas!” Disse ele.
- “Você tem outra túnica?” Perguntei eu.
- “Não, eu só tenho essa, as outras estão sujas”,
disse ele.
- “Nós podíamos cortá-la acima da queimadura”,
disse eu esperançosamente.
- “Tu vais cozê-la à mão agora? E não se pode usar
uma túnica assim. Não é apropriado”, disse ele.
- “Eu estou verdadeiramente desconsolado, o que
fazemos?” Perguntei eu.
- “Termina de passar a parte de cima da túnica”,
disse ele.
Sentindo-me miserável, passei a ferro a parte de cima da
túnica. Na minha mente, revi como tudo tinha acontecido.
Tinha precisamente destruído a sua túnica. A primeira coisa
que a minha mente geralmente faz é culpar os outros: Porque
é que ele me chamou enquanto eu estava a passar a ferro? Ele devia
ter visto que eu estava ocupado e que ele não me devia ter
incomodado! O meu segundo pensamento é geralmente
culpar-me a mim próprio: Eu devia ter sido mais cuidadoso e ter
colocado o ferro de lado. Isto foi imediatamente seguido por
uma forma de me parar de sentir culpado: Eu fiz o que ele me
pediu para fazer, ele disse-me para eu ir e eu obedeci. Eu obedeci
portanto a culpa é dele se eu deixei o ferro na túnica! O terceiro
pensamento foi um pouco melhor: Não, eu devia ter movido o
ferro. Mesmo tendo ele me chamado, isso não é razão para esquecer.
Eu devia ter acabado o que estava a fazer e depois ver o que ele
queria.
Então levei a túnica passada a ferro para o quarto do
Swami. O Irmão Jyotirananda chegou.
- “Tu sabes o que aconteceu? Ele queimou a minha
túnica”, disse o Swami.
- “O quê? A sua túnica nova em folha?” Perguntou
o Irmão Jyotirananda.
- “Sim, olha para ali”, disse o Swami apontando
para ela.
Segurei na túnica em frente da janela para mostrar o
dano.
- “Onde? Eu não vejo nada,” disse o Irmão
Jyotirananda.
Ele caminhou para perto da túnica enquanto eu olhava
também com atenção e virava a túnica em todas as direcções.
- “Aonde é que tu vês que ela está queimada? Eu
não consigo ver nada”, disse o Irmão Jyotirananda.
- “Sim, estava queimada, nas costas. Havia uma
marca do ferro, todo vermelho”, disse o Swami.
- “Não há nada, nem um só vestígio”, respondeu o
Irmão Jyotirananda.
Não havia mais nenhum vestígio de marca na túnica. Eu
não conseguia acreditar. Estava tanto aliviado como
perplexo. Olhei para o Swami que me perguntou:
- “Como é que fizeste isso?”
- “O que você quer dizer com o como eu fiz isso?
Você reparou-a simplesmente e pergunta-me como é que
eu o fiz? Eu queimei-a e você reparou-a. Agradeço-lhe de
qualquer forma, sinto-me muito melhor”, disse eu.
- “Está bem. Deixa-me agora sozinho, eu tenho que
me vestir”, disse ele.
Nós deixámos o quarto e eu apressei-me a preparar-me
para a cerimónia que ia começar dentro de dez minutos.
Matéria ardente, esta história sobre passar a ferro!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Navarathri e a murthi manifestada


Há uns anos atrás o Swami Vishwananda veio visitar-nos à nossa casa na Suiça. Não tinhamos muita experiência em cerimónias Hindus ou estatuetas e a sua visita coincidia com o Navarathri. O Swamiji disse que seria muito importante ter uma murthi para celebrarem estes dias dedicados à Mãe Divina mas infelizmente não tinhamos nenhuma.

A certa altura eu ouvi um barulho muito intenso no meu quarto e imediatamente corri para lá. Olhei para o chão e havia uma bela estátua de Durga (Mãe Divina) no chão. Quando lhe peguei ainda se encontrava quente!